Ouso fazer das nascentes
as margens do teu ombro
berço embevecido no alento
do sol e de sal chorado,
ponte de um rio lavado,
jamais um escombro,
o meu sustento...
Ocaso é respirar por instinto
e tu, colina de coragem destemida
onde só o vento
é o labirinto
dos urros que sorvo da vida
Ombro aonde remanso
o medo de um gesto,
ou de um adeus
Lírio laço, quando me lanço
no manso caule
dos ramos teus
São as tuas raizes urdidas
Na minha utopia anciã
e nas horas sobrevividas
desmancho no teu ombro a manhã!
(imagem: Lou Poulit)