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Mai 09

 

 

Digo da terra meu mondado manto
Acalentado no seio dela
Nas pedras maceradas de espanto
Trago nos pés
Um pedaço dela
 
Coram minhas mãos insolentes
Quando minto ao sol
Para a trazer no regaço
Nos dias em que um rio me faz
 
Sou de um mar
Que assoberba a campina de azul
E do rio que se afoita
Na folha de um poema desaguado
 
E da terra adubada de água bravia,
São as minhas entranhas
O musgo das palavras
 
 
(imagem: Elisabete d`Silva)

 

publicado por Utopia das Palavras às 18:48

Neste poema, «Intimidades», de novo se mostra, de corpo e alma, como terra e água, que a habitam, que fazem parte de si, como que a subverter o natural estabelecimento das coisas. E até as palavras são de terra e água, de musguentas que são. Tudo em si, alma e corpo, isto é, terra e água, e palavras, isto é, musgo falante, induzindo e produzindo poesia, que é a tão sensível e tão bela e tão profunda arte que lhe embebe docemente, ainda que também por vezes sofredoramente, o âmago e que depois se evola, como invisível líquido, para o exterior para se dar a quem dela deseje beber.
Singulares e profundos poemas os seus!
Um abraço amistoso.

Mírtilo
Mírtilo MR a 20 de Maio de 2009 às 17:29

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